Sobre o blog



Este blog foi criado para falar sobre a busca do silêncio da mente por meio da meditação. A partir de agora, ainda que esta busca continue sendo o tema central, o foco se ampliará para englobar outros caminhos além da prática de meditação. Meu motivo para isto foi a experiência que tive meditando com alguma frequência por mais de um ano, e também uma mudança em minha maneira de entender a natureza do silêncio interior.



Em primeiro lugar, o que significa o título do blog? É uma referência a Alberto Caeiro, autor do poema “O guardador de rebanhos”. Caeiro (na verdade, um pseudônimo do grande poeta português Fernando Pessoa), não é realmente um pastor. Ele fala de si mesmo desse modo, mas seus rebanhos são seus pensamentos, as ideias que conduz pelos caminhos tranquilos onde costuma passear em suas horas livres. Acontece que os pensamentos de Caeiro, conforme ele esclarece no poema, são “todos sensações”. Seu objetivo é fazer uma apologia dos sentidos, que considera serem recursos mais confiáveis para a compreensão da realidade, enquanto critica a abordagem intelectual típica da mente, por julgá-la nada mais do que uma fonte de enganos e ilusões. No final das contas, Caeiro defende que tenhamos a mente mais leve, menos ocupada por pensamentos, para que assim possamos entrar em contato com a essência de tudo que existe – inclusive, de nós mesmos.

Ora, o poema de Alberto Caeiro não trata de meditação, mas se relaciona de modo bastante evidente com essa temática. Meditar é uma oportunidade para desenvolver no íntimo uma forma de tranquilidade pouco comum, aquela que surge quando a mente se encontra livre dos pensamentos que a preenchem com tanta insistência. Assim, já que eu queria ter um blog para comentar minha experiência de meditação, elegi Caeiro como um “mestre” e passei a me considerar o seu aprendiz. (Brincadeira semelhante àquela que fiz em meu blog de corrida, onde me refiro ao personagem de cinema Forrest Gump como um mestre – como possivelmente muitos estão lembrados, ele realiza várias proezas, inclusive passar três anos correndo por todos os Estados Unidos.) O poema “O Guardador de rebanhos” transformou-se numa fonte de inspiração valiosa para mim, e desde então tenho procurado meditar tão regularmente quanto possível, perseguindo nesses momentos um pouco da serenidade ensinada pelo extraordinário pastor das sensações.

Só que... nunca fiquei satisfeito com os resultados que consegui na maior parte das vezes. Talvez eu nem tenha sido especialmente desajeitado com essa prática, afinal meditar não é fácil para ninguém, mas o fato é que achei os resultados pouco animadores. De umas semanas para cá, as sessões se tornaram muito esporádicas, e acabei percebendo que não é uma atividade que verdadeiramente me empolga. Ao mesmo tempo, ocorreu-me que pode haver diversas outras maneiras de desenvolver uma mente quieta. Mais do que isso, creio que pode haver tipos diferentes de silêncio interior.

Não pretendo, de modo algum, desmerecer a importância da meditação – sua capacidade de beneficiar o cérebro já foi até comprovada em pesquisas. Portanto, é uma das atividades mais significativas que alguém pode realizar. Só que a meditação implica esvaziar a mente de pensamentos, entrando num estado muito diferente do normal. Ainda que seja ótimo experimentar um estado diferente (já que o normal, como mencionei há pouco, consiste numa repetição incessante de pensamentos), pergunto-me se não seria mais simples buscar um meio-termo entre esses dois estados. Dias atrás, comecei a ler uma obra muito interessante cujo título é Flow: the psychology of optimal experience [Fluxo: a psicologia da experiência ótima], e que examina a experiência que todo mundo conhece de estar mergulhado numa atividade a ponto de esquecer – nesses preciosos instantes – qualquer outra coisa. Se, por um lado, sempre tive dificuldade para mergulhar na meditação, nunca foi tão difícil concentrar-me de modo mais intenso em algumas outras tarefas: um exemplo é o estudo (i.e., a leitura e a escrita), que considero cada vez mais um excelente passatempo.

Por que não buscar então repetir esta experiência com mais frequência, aproveitando o tempo que antes gastava com sessões pouco frutíferas de meditação para o estudo? Muitas vezes terminei de “meditar” sentindo que só havia lutado para silenciar os pensamentos. Ora, quando estou engrenado na leitura ou na escrita não deixo de pensar, mas aí isto acontece (o que é próprio do fluxo) de uma maneira mais serena, ordenada e compensadora. Aqueles pensamentos inúteis que eu tentava a tanto custo expulsar durante a meditação desaparecem automaticamente quando me concentro num texto. Se desejo conhecer um estado de consciência diferente, este é bem satisfatório!

É assim que agora entendo a quietude da mente. Considero ainda o poeta Alberto Caeiro como o modelo mais admirável, mas não tentarei alcançar o silêncio interior livrando-me dos pensamentos – antes quero fazer deles meus aliados. Farei de atividades simples como estudar, ou mesmo sair para uma corrida, o caminho para este silêncio. E até continuarei procurando meditar, mas agora não me obrigarei a isso.

E este blog será um espaço onde espero publicar textos sobre autoaprimoramento no sentido mais amplo do termo. Ou seja, que inclui tudo aquilo capaz de levar a essa experiência hoje definida pela psicologia como fluxo – o autoesquecimento que pode ser conhecido por qualquer pessoa quando se dedica àquilo que ama.
 
Segunda versão escrita em
9 de dezembro de 2012


Nota:

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