domingo, 29 de julho de 2012

Um outro caminho

Até este momento, fiz postagens mensais neste blog e mantive a regularidade nas datas de publicação. Só que, a partir de agora, lidarei com este blog como faço com os demais, deixando-o à espera do momento em que produzirei novos textos, sem me pressionar para escrevê-los todos os meses ou para publicá-los em datas predefinidas.

Desta maneira, manterei anotações mensais apenas no blog de corrida, e encararei este e os outros como um único blog, alternando as publicações entre eles.* A questão que se apresenta para mim agora é com que frequência escreverei novos textos. Por um lado, desejo produzir trabalhos mais aprofundados, o que exigirá um tempo mais longo de preparação e contribuirá para tornar as publicações mais esparsas. Por outro lado, eu gostaria de reservar um tempo a cada mês para produzir ao menos um ensaio, algo que concretizasse algumas das ideias que vão surgindo, permitindo-me dar os primeiros passos nesse processo de aprofundamento, desde logo. O ideal seria conciliar os dois processos, e talvez tudo dependa de eu me acostumar a isso, mas é algo que precisarei experimentar nas próximas semanas, para ver se conseguirei fazê-lo.**

Seria ótimo continuar postando regularmente aqui, mas isso vem se tornando mais difícil há um bom tempo. Embora eu continue meditando, durante meia hora quase todos os dias, e tenha despertado minha atenção para algumas outras práticas – p.ex., outros tipos de exercícios e mudanças na dieta –, tudo isso está demorando para engrenar mais do que eu esperava, e acabo me sentindo com poucas novidades para contar aqui. Na verdade, a questão nem é fazer mais ou menos progresso, é como avaliar um processo assim. É evidente que o íntimo humano tem o potencial de se expandir em numerosas direções, e qualquer tentativa de acompanhar muito conscientemente o que ocorre nunca será por completo bem sucedida. Talvez essas mudanças só possam acontecer prestando-se atenção em cada etapa, enquanto se procura esquecer de algum modo a cena em sua inteireza, sem pensar no que já passou e no que ainda virá. Assim, serão feitos os avanços que estiverem ao alcance, e os que não acontecerem – bem, aí o desafio será conviver com isso.

Por estes motivos, meu objetivo com este blog não será mais fazer relatos pessoais. Agora me inclinarei a produzir estudos sobre os temas abordados. (É curioso que, quando comecei a escrever aqui, eu estava exatamente decidido a evitar uma abordagem mais intelectual destes assuntos.) A opção de escrever estudos não significa que pretendo me limitar a pensar a respeito desses assuntos, pois continuo disposto a vivenciá-los de maneira tão verdadeira quanto possível. No final das contas, o que importa não é como se escreve, mas sim o estado de espírito com que se encara cada experiência.

Então, buscarei ganhar ritmo nestes diversos estudos, registrando as descobertas que acontecerem nos diferentes blogs, enquanto vou explorando minhas possibilidades no sentido mais pessoal. Mantive um ritmo de avanço constante até aqui, e continuando assim certamente alcançarei bons resultados. Sejam quais forem!


* Este texto foi escrito antes de eu criar o blog Pelo mar desconhecido, onde também faço postagens regulares.

** A conclusão a que cheguei sobre esse assunto e o plano de estudos que estabeleci para mim podem ser conferidos nesta outra postagem.

Nota: 

Imagem adaptada de: inkiboo

Diário do aprendiz – 29 de julho de 2012


Guardando imagens


Porque eu sou do tamanho do que vejo
  E não do tamanho da minha altura...

                                                                              Alberto Caeiro, O guardador de rebanhos (VII)

~

Vida...



...inocência... 



...mistério...



...e beleza



"A fotografia é a poesia da imobilidade: é através da fotografia que os instantes deixam-se ver tal como são." Peter Urmenyi

~

Notas sobre as fotografias (seguindo a ordem de apresentação):

Obs: Os títulos acima são adaptações minhas. Os títulos originais aparecem abaixo.

1. “Untitled” Autor: Michael C. Rael. Esta foto foi tirada em 18 de setembro de 2010 usando uma Panasonic DMC-G2.
2. “Wings of tenderness” Autora: Martina Rathgens. Esta foto foi tirada em 24 de julho de 2010 usando uma Canon EOS 40D.
3. “Autumn fog” Autor: snowpeak. Esta foto foi tirada em 5 de outubro de 2011 usando uma Nikon D90.
4. “Violin” Autor: pellaea. Esta foto foi tirada em 1° de janeiro de 2000 usando uma FujiFilm FinePix 1400 Zoom.

domingo, 15 de julho de 2012

Diário do aprendiz – 15 de julho de 2012


Ser a árvore e também as nuvens

~

XXV - As Bolas de Sabão

As bolas de sabão que esta criança
Se entretém a largar de uma palhinha
São translucidamente uma filosofia toda.

Claras, inúteis e passageiras como a Natureza,
Amigas dos olhos como as cousas,
São aquilo que são
Com uma precisão redondinha e aérea,
E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa,
Pretende que elas são mais do que parecem ser.

Algumas mal se veem no ar lúcido.
São como a brisa que passa e mal toca nas flores
E que só sabemos que passa
Porque qualquer cousa se aligeira em nós
E aceita tudo mais nitidamente.


~

Da importância de silenciar

Krishnamurti foi um pensador indiano que durante toda a vida percorreu o mundo realizando palestras sobre aprimoramento humano. Ele costumava falar sério, mas às vezes também sabia curtir uma boa piada.

Esta era uma das que gostava de contar...

Três grandes mestres contemplam o céu no alto do Himalaia. Dez anos se passam assim, até que um deles diz:

- Está fazendo uma bela tarde.

Passam-se mais dez anos, e o segundo responde:

- Acho que vai chover.

Outros dez anos se passam, e o terceiro retruca:

- Vocês dois querem ficar quietos?


J

Nota:

Imagem por iansthree.

sábado, 7 de julho de 2012

It hasn’t happened yet, de William Shatner

William Shatner – “Audaciosamente indo”
ao universo da música

O ator William Shatner, a partir de 1966, ficou conhecido mundialmente como o capitão James T. Kirk do seriado Jornada nas Estrelas. Seu trabalho no programa de TV e, mais tarde, nos seis filmes de cinema que consagraram Jornada, pode ser considerado o ponto alto de uma carreira muito difícil. De fato, há quem considere espantoso que o ator tenha se mantido “à tona” por décadas, e ainda mais que finalmente, chegando já aos seus setenta anos de idade, tenha conquistado o que parece ser uma posição definitiva de ícone do showbiz, com sua interpretação do advogado fanfarrão Denny Crane no seriado Boston Legal, e... sua segunda incursão na música, com um disco de canções faladas focado principalmente em suas experiências de vida, intitulado de forma cômica e desafiadora Has been – palavras que podem ser entendidas como a descrição de alguém que “passou da validade”.

Shatner, que se aventurou em todos os ramos do mundo do entretenimento – além de atuar, ele dirigiu, produziu, publicou romances, foi entrevistador em talk shows de rádio e TV –, realizou em 1968 um álbum de letras faladas (o caminho que encontrou para utilizar musicalmente uma voz impactante, que todavia não é a de um cantor), que consiste quase todo em interpretações de uma grande variedade de obras, desde monólogos shakespearianos até o clássico Lucy in the sky with diamonds, dos Beatles. O imenso descrédito com que o disco foi recebido, inclusive o fato de a interpretação de Lucy... ter sido eleita a pior de todos os tempos, tudo isso como resultado sobretudo do tom (algumas vezes, involuntariamente) engraçado que o ator conferiu ao álbum, pareceu encerrar em definitivo suas pretensões como músico. Entretanto, Has been, lançado em 2004, mostrou ter um destino totalmente diferente, pois recebeu diversas críticas entusiasmadas, tanto pelos arranjos instrumentais muito bem feitos como também pelas letras, que desta vez foram quase todas escritas pelo próprio cantor. E, embora o termo “cantor”, aplicado a ele, continue sendo apenas força de expressão, desta vez a qualidade de sua performance não pode ser negada, em discursos que em sua maior parte consistem em dramáticas confissões pessoais e apenas em algumas faixas voltam a um tom (genuinamente) engraçado.

Assim, nas faixas sérias do disco, Shatner fala de problemas tão íntimos como sua dificuldade de relacionamento com a filha (That’s me trying – Este sou eu tentando); ou a descoberta terrível, quando voltou para casa numa noite, do corpo de sua terceira esposa – que ele já sabia ser alcoólatra quando se casaram, e que acabou cumprindo suas ameaças de cometer suicídio (What have you doneO que você fez); ou, enfim, suas inseguranças pessoais e profissionais, que parecem acompanhá-lo até hoje e continuam adiando a realização de uma verdadeira felicidade (It hasn’t happened yetIsto não aconteceu ainda).

Mas preciso esclarecer que não ouvi o disco inteiro; os comentários feitos aqui têm base em diversas críticas que li na internet – que vão desde uma agradável surpresa até uma afirmação convicta de que o álbum pode ter sido o melhor lançamento de 2004. Mas minha opinião também é motivada por algumas faixas que já escutei, e que tenho certeza que são amostras significativas da qualidade do conjunto: p.ex., That’s me trying, muito bonita, e It hasn’t happened yet, que foi responsável por me tornar de imediato um fã deste “cantor”. Podem-se ressaltar dois detalhes especiais desta canção: primeiro, o trecho onde Shatner vê a si mesmo escalando uma montanha – referência a uma sequência de Jornada nas Estrelas V –, e segundo, o acompanhamento de uma maravilhosa cantora, que contribui em muito para a música realmente “decolar”.

Enfim, boa sorte nas “contínuas viagens” do velho capitão!

It hasn’t happened yet, de William Shatner


Assista uma apresentação ao vivo: