quarta-feira, 15 de junho de 2011

Diário do aprendiz - 15 de junho de 2011


Sentir o coração quente como o fogo

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II - O Meu Olhar

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...


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Nestes últimos dias, consegui me manter mais fiel ao plano de meditar, embora tenha perdido algumas sessões. É incrível, mas sempre parece haver alguma coisa mais urgente do que a meditação. Mas isso revela uma coisa: a ilusão predominante na vida, em que os problemas sempre tentam se impor à tranquilidade, mostrando-se como uma realidade dominante, a qual só nos restaria aceitar... De certa forma, a dificuldade em “encontrar tempo” para meditar constitui um pequeno “laboratório” onde é possível confrontar o desafio. Nestes dias, apesar da constante tentação de descumprir o plano, insisti e realizei várias sessões muito recompensadoras. A ponto de, no final de cada uma, sempre me fazer esta pergunta: como posso ter coragem de passar um único dia sem meditar?

Isto não significa que aprendi a meditar. Não, estou longe disso. A meditação só se consuma com aquele mergulho num estado de autoesquecimento. Já experimentei esse estado, algumas vezes (qualquer pessoa que já tenha meditado conseguiu fazê-lo, ao menos por um instante). Mas alcançar esse estado é tão raro! O que faço, na maioria das vezes, é esforçar-me para manter a concentração, enquanto a mente insiste em pensar. Em qualquer bobagem – às vezes, penso até que seria bom interromper a meditação para fazer outra coisa. Um absurdo, mas a desatenção parece ser própria da mente.

Nada disso é bastante para desencorajar, porém. Mesmo imperfeita, a meditação proporciona bons resultados. Ainda que a mente não se esvazie por completo, o simples fato de “desacelerar” por alguns minutos (meia hora, no meu caso) é muito bom. Por isso, continuarei meditando – não estou disposto a ceder às ilusões.

Nota:

Imagem do documentário No journey´s end [Viagem sem fim], de 2006.