domingo, 15 de maio de 2011

Diário do aprendiz - 15 de maio de 2011


“O bom viajante não tem planos fixos, e não está preocupado
em chegar.” Lao Tzu (séc. VII a.C.), filósofo chinês.

Faz alguns meses que tive a ideia de praticar meditação, mas só há uns quinze dias iniciei as sessões. As primeiras foram difíceis, pois as costas doíam (eu tentava meditar na postura tradicional, sentado numa esteira, com as pernas cruzadas em “lótus”) e a mente se recusava a ficar quieta. Passei a meditar sentado numa cadeira, aprendi a concentrar-me mais, e finalmente comecei a superar essas dificuldades. Ao menos, as costas pararam de doer, embora conservar a mente vazia por longos minutos ainda seja um desafio.

Em síntese, é nisto que consiste a meditação: esvaziar a mente, fixá-la num estado de ausência de pensamentos e mantê-la assim pelo maior tempo possível. Não se trata de dormir, e com certeza também não é relaxamento – ao contrário, demanda energia, tanto que é difícil meditar quando se está cansado. Ao que parece, naqueles instantes em que a mente consegue se esvaziar de fato, o cérebro experimenta uma mudança em sua estrutura, com o surgimento de novas ligações entre os neurônios, o que resulta em efeitos benéficos para o organismo inteiro. Hoje, a meditação é reconhecida pela medicina como um importante instrumento para a manutenção da saúde, podendo até mesmo curar diversos tipos de doença. Os efeitos, ao menos em termos de bem-estar, são imediatos – e isso é algo que posso afirmar com base na experiência que tive até agora.

Sim, a meditação produz um grande bem-estar. Mesmo quando é imperfeita, como ocorre no meu caso. Nos primeiros dias, cheguei a me convencer de que não conseguiria silenciar a mente nem por um momento, e por isso decidi concentrar-me apenas em ficar quieto, não necessariamente em estado meditativo. Bem, há alguns dias, descobri que consigo, sim, produzir o estado de meditação, quando os pensamentos cessam e a mente parece... “esfriar”. Até agora, minha experiência se resume a instantes, cuja soma talvez nem chegue a um minuto, em cada prática. Mas isso é suficiente para eu ter certeza de que descobri algo valioso e que este é um caminho que merece ser seguido. Mais do que isso: precisa ser seguido.

Afinal, o mundo e a vida do dia a dia não cessam de apresentar desafios, e também de impor dificuldades as mais variadas, muitas delas verdadeiras ameaças à tranquilidade. A cultura atual insiste em atrair a atenção do indivíduo para “fora” de si, e há quem se acostume a pensar que estresse, aborrecimentos e a busca por diversões fugazes constituem a única maneira de viver. O grande mérito da meditação é revelar que existe um outro estado de espírito, e que todas as preocupações do dia a dia estão longe de constituir a verdadeira realidade. Por certo, uma pessoa pode enfrentar problemas graves, que preocupam mesmo e não podem ser simplesmente ignorados. Todavia, é mais fácil seguir em frente quando se sabe para onde ir, e a meditação mostra que o melhor lugar para onde alguém pode ir é o refúgio de quietude e contentamento que existe em seu próprio íntimo.

Estou convencido de que vale a pena empreender essa viagem. Não faço a menor ideia se algo mais importante resultará disso. Mas talvez seja irrelevante saber até que ponto tenho talento, capacidade ou força para buscar esse refúgio. O fato é que, com a prática, é possível obter progresso, e isso é motivo bastante para prosseguir. Há anos, li em um livro chamado O poder do pensamento pela yoga, escrito por um mestre indiano1, que com uns três anos de prática regular de meditação "mesmo um aspirante medíocre” pode obter benefícios significativos. Em meu ponto de vista, isso parece muito motivador! Eu devia ter começado a meditar assim que li esse livro...

Enfim, agora comecei. Vou seguir nesta viagem, curtindo cada sessão e os momentos de silêncio que tiver a felicidade de conhecer. Faz alguns dias, assisti a um documentário sobre uma cantora extraordinária chamada Loreena McKennitt2, que se dedica à música celta e a estudos relacionados à espiritualidade e ao autoconhecimento. Em certa altura, ela cita uma frase que usa como inspiração em sua vida pessoal. Esta frase, do filósofo Lao Tzu (lendário fundador do Taoísmo), é a que reproduzi acima. E não é um pensamento importante para qualquer pessoa? Ele expressa a única maneira adequada de empreender a viagem da vida – e esta “viagem dentro da viagem” que é a meditação. De minha parte, farei da meditação uma oportunidade para experimentar este lado mais verdadeiro da vida... desde já.

Notas:

1. Swami Sivananda.
2. No journey´s end [Viagem sem fim], de 2006.
3. A imagem foi obtida neste documentário.