sexta-feira, 30 de março de 2012

Diário do aprendiz – 30 de março de 2012


Aprender a ouvir

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XXI - Se Eu Pudesse

Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...

O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...


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“Pensar em fazer algo é o mesmo que não fazê-lo.” Esta frase é citada na abertura de uma entrevista com Dan Millman, ex-campeão mundial de ginástica e autor de diversas obras sobre aprimoramento pessoal. Poderia também ser uma frase de Alberto Caeiro, pois sintetiza com perfeição a filosofia expressa por ele no poema O guardador de rebanhos. Assim como o poeta, Millman acredita que a vida consiste essencialmente em ação, e procura mostrar como agir de maneira eficaz independentemente de estados de espírito. Isso não significa desistir do trabalho de mudar padrões emocionais, desenvolver valores mais positivos etc. Significa que, na perspectiva de Dan Millman, a melhor maneira de fazê-lo é moldar o comportamento exterior a ponto de torná-lo o mais eficiente guia para o íntimo. Como lembra na entrevista, em um de seus livros ele oferece “as seguintes opções fundamentais:

(1) Você pode encontrar uma maneira de silenciar a mente, aumentar a sua capacidade de acreditar, aumentar a sua autoestima e praticar uma autoconversa positiva, encontrar o seu foco e reafirmar o seu poder para libertar as suas emoções e visualizar os resultados positivos, para que possa, assim, desenvolver a confiança para gerar a coragem e encontrar a determinação em se comprometer a sentir-se suficientemente motivado a fazer aquilo que precisa se feito.

(2) Ou você pode apenas fazê-lo. Eu escolho a segunda opção.”

De minha parte, considero inegável que a vida de uma pessoa reflete sempre o seu interior, que suas ações manifestam aquilo que ela pensa e sente. Dessa forma, é preciso haver um mínimo de serenidade e confiança para que se possa agir no mundo concreto. Mas acredito que Dan Millman está mais do que certo quando afirma: “Algumas pessoas ficam tão acostumadas a buscar a felicidade, a paz, a justiça e a liberdade, que se esquecem que o processo principal é encontrar essas coisas”. Há um momento em que já não se pode esperar que as respostas surjam prontas no íntimo, pois muitas vezes isso não acontecerá. Então, cumpre partir para a realização daquilo que se deseja, fazendo desse processo a própria fonte do desenvolvimento interior, de modo que o caminho seja construído pelas ações que se pratica. Ainda que se continue sem enxergar muitos passos adiante.

Há muito mais na entrevista, e eu não poderia resumir tudo aqui. A seguir, indico a página na web para os que desejem ler mais desse autor.


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As meditações até aqui

Neste mês, alguns acontecimentos se precipitaram e isso interferiu nas meditações, deixando-me bastante disperso, dificultando mais a concentração. Ainda assim, houve alguns resultados positivos, começando pelo fato de eu sentir pela primeira vez (como registrei na postagem anterior) que finalmente consolidei o hábito de meditar. Outra percepção compensadora é que já não é tão difícil para mim ficar quieto, procurando não pensar em nada, por meia hora, uma hora ou até mais tempo. A concentração vem e vai, numa oscilação incessante, mas pelo menos já não fico terrivelmente impaciente nem caio no sono. Seja lá qual for o progresso que eu ainda possa fazer, tudo isso ajuda a firmar uma base.

Nota:

Imagem por alexdecarvalho.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Diário do aprendiz – 15 de março de 2012


Percorrer as épocas da vida

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XX - O Tejo é mais Belo

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que veem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.


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“Aprendi que podemos fazer qualquer coisa, mas não podemos fazer tudo... Pelo menos, não ao mesmo tempo. Portanto, pense em suas prioridades não em termos do que deseja fazer, e sim de quando pretende cumprir cada tarefa.

Timing é tudo.”

“Força de vontade é a chave para o sucesso. Pessoas de sucesso lutam, não importa como se sintam, valendo-se de sua vontade para superar a apatia, a dúvida e o medo.”
 
Encontrei essas citações num vídeo do You Tube. São de Dan Millman, ex-campeão olímpico e autor de vários livros sobre aprimoramento pessoal. Conheci esse autor assistindo ao filme Poder além da vida, que se baseia no livro O caminho do guerreiro pacífico, um relato de um período difícil que ele enfrentou na juventude. O filme, embora não tenha recebido críticas lá muito positivas, tem seus méritos e merece ser assistido. Quanto à filosofia de Millman, ainda preciso conhecê-la em maiores detalhes, mas já a considero muito interessante. Pode-se dizer que as frases destacadas acima, e principalmente a segunda, sintetizam bem o cerne dessa filosofia. É de fato muito simples, feita para ser colocada em prática e não para motivar uma série infinita de divagações. Por isso, pode ser bastante útil.

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As meditações até aqui

As meditações precisam melhorar. Tenho perdido algumas, talvez por estar com a cabeça muito voltada para algumas coisas mais urgentes no momento. Claro que isso é contraditório, porque na verdade uma das coisas mais urgentes a fazer é, precisamente, praticar meditação. Acho que, neste ponto, já posso ter certeza de que desenvolvi o hábito de meditar e não o abandonarei mais (mesmo que passe algum novo período afastado, a tendência será voltar, como acontece com algumas outras coisas). Mas começo a me perguntar o seguinte: primeiro, se algum dia serei um meditador minimamente bom; e segundo, se não existirá alguma outra forma de encontrar esse silêncio interior que se busca na meditação - algo que faça a mente parar, e assim descansar de todos os pensamentos comuns do dia a dia, mesmo que só por alguns instantes. Eu gostaria de encontrar algo desse tipo, uma atividade que se mostre mais natural para mim (o que infelizmente ainda não ocorreu com as sessões de meditação). Enfim, resta apenas continuar buscando.

Nota:

Imagem por DR Ranch