quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Diário do aprendiz – 15 de fevereiro de 2012


Tocar as cores

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XIV - Não me Importo com as Rimas

Não me importo com as rimas. Raras vezes
Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra.
Penso e escrevo como as flores têm cor
Mas com menos perfeição no meu modo de exprimir-me
Porque me falta a simplicidade divina
De ser todo só o meu exterior.

Olho e comovo-me,
Comovo-me como a água corre quando o chão é inclinado,
E a minha poesia é natural corno o levantar-se vento...


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Acredito que existe
Uma crença bastante difundida
De que a natureza humana
Não foi feita para ser entendida
E muito menos moldada.
É como se, em se tratando disso,
Houvesse um processo coletivo
De “desesperança aprendida”.1
A ideia de que, sim, podemos mudar,
Mas sempre dentro de limites
Excessivamente estreitos.
E tudo isso porque todos nós
Percebemos estarrecidos a cada dia
O quão facilmente nosso íntimo,
Movido por impulsos mais fortes
Do que a nossa vontade,
Deixa de ser paz e se converte em dor,
Deixa de ser calmaria e irrompe
Em tempestade.

Claro, por “natureza humana”
Não me refiro às camadas
Mais superficiais de nosso ser,
Aquela dimensão constituída
Pelos pensamentos e sentimentos
Que, embora nunca totalmente,
Ainda conseguimos manter
Sob o nosso controle.
Ou seja, não falo do intelecto
Com seu mecanismo de relógio
E como tal formado também por peças
Que são as palavras e as ideias,
E que sempre podemos reordenar
Fazendo uso da razão.
Tampouco falo daquelas emoções
Que aprendemos a manejar,
Obrigando que se calem quando preciso
E deixando que se manifestem
Quando apropriado.
Tudo isso é a porção de nós
Que imprime ordem em nossas vidas,
São os aspectos da natureza humana
Que tornam possível a civilização.
Mas, como foi dito,
Por baixo deste solo arado
Correm forças selvagens
E que tantas vezes são responsáveis
Pela nossa paz ou pelo
Nosso tormento.

Por “natureza humana” refiro-me
À dimensão mais profunda de nosso ser
E que considero, com todas as suas falhas,
A nossa porção mais verdadeira –
O inconsciente que Freud descobriu
E que, por séculos, procuramos ignorar
Enquanto nos enganávamos
Julgando termos uma capacidade sem fim
De iluminarmos cada volta do caminho
Seguido por nossa mente
E nosso coração.
Sim, o inconsciente que, despreocupado
Com toda essa arrogância,
Seguiu em sua marcha, construindo
E destruindo,
Por meio destes impulsos e desejos
Que todo dia, de diversas formas,
Fazem-nos descobrir que a razão
É ainda tão fraca em nós.

Daí a crença que mencionei no início,
De que, apesar de todo o nosso esforço,
Só podemos entender a nós mesmos
Em certa medida,
E só podemos decidir quem somos
Até certo ponto.
Crença que, eu suspeito, nos persegue
Mesmo quando lemos best-sellers de autoajuda,
E visitamos consultórios de psicoterapeutas,
E fazemos preces em igrejas.

Pois bem, eu não poderia aqui
Desmentir a força dos desejos e impulsos
Mais profundos de nosso ser.
Mas recuso-me a admitir que a paz seja obra
De nada mais do que o acaso,
Chamemo-lo de “inconsciente” ou
Do que quisermos chamá-lo.
Não; a paz, embora nunca possa ser cultivada
Da mesma forma como manejamos
Certas ideias e certas emoções,
Pode ser, apesar de todas as dificuldades,
Produzida em nossa mente –
Somos capazes de, em alguma medida,
Moldar a nossa mente,
E não só no nível mais superficial,
Mas influenciando até mesmo
O inconsciente.
Como?
Aos leitores, sugiro que, daqui por diante,
Procurem reservar algum tempo
Para conhecer o material cada vez mais vasto
Que cientistas e outros investigadores
Têm produzido sobre o fenômeno
Da meditação.2

Talvez não possamos conquistar a paz
 De uma hora para outra.
Mas precisamos superar esta ideia,
Que se tornou lugar-comum,
De que seremos sempre, no máximo
Com pequenas mudanças,
Aquilo que somos hoje.
Cabe a nós exercitar a paz,
Estabelecendo em nossos dias
O hábito da meditação,
Dando tempo para que cicatrizem
As nossas feridas,
E continuando até isso ocorrer.
Sim: persistindo enquanto
For preciso persistir.

Notas:

1. A “desesperança aprendida” é um problema psicológico verificado quando um indivíduo se vê submetido a pressões persistentes, sem que consiga fazer nada para enfrentá-las, de modo que acaba acreditando que é impossível vencê-las e passa a aceitar essa situação como um fato definitivo. Leia mais.

2. A Wikipédia tem uma página sobre meditação com informações básicas e links para aprofundar a leitura. E no You Tube há um interessante vídeo sobre meditação e os efeitos que pode produzir no cérebro.

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As meditações até aqui

As meditações não têm sido muito fáceis nem muito boas; o maior mérito que tive até aqui foi ter mantido uma prática regular - de fato, agora não me lembro de ter perdido qualquer sessão. Considerando que, há algum tempo, eu costumava perder sessões com frequência, este foi um progresso e tanto. A questão agora é aprender a meditar melhor; venho sentindo uma grande vontade de fazer isso, mas ainda resta eu me decidir mais claramente neste sentido. E, claro, descobrir como fazê-lo. Ah, se fosse possível progredir na meditação como é possível progredir num estudo! Mas, obter informações consiste, em boa medida, num processo mecânico, que pode ser direcionado, enquanto meditar é o oposto disso. Eis porque a meditação é tão especial e também tão difícil.  

Nota:

Imagem por g_kovacs