domingo, 29 de janeiro de 2012

Diário do aprendiz – 29 de janeiro de 2012


Saber chorar

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XIII - Leve

Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,
E vai-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabê-lo.


~


Há dois tipos de visão:
A primeira, a de nossos olhos,
Tão física quanto os objetos
Sobre os quais se debruça,
E a segunda, a de nossa mente,
Manifesta em insights criadores
E muito bem chamada
Pelo mestre indiano Krishnamurti
De “visão intuitiva” 1

Esta visão do corpo,
Compartilhamos com toda vida
Dotada de consciência.
(Todas as criaturas do mundo,
Providas ou desprovidas
De razão.)
Já a criatividade,
Embora não se possa dizer
Que jamais possa existir
De alguma maneira
Em outros seres,
É o dom mais característico
Que a natureza concedeu
À espécie humana,
Dom que se expressa
No artista,
No filósofo,
No cientista,
No santo,
No louco,
E também em mim e no(a) leitor(a),
Quando refletimos a respeito
De tudo que se refere a nós
E à vida em nosso redor
E à vida em si mesma.

É um erro esquecer
Deste mundo físico onde vivemos,
Mas é um erro maior ignorar
Este mundo íntimo que carregamos
– Enxergue quem for capaz
De enxergar...!


Referência:

1. Krishnamurti, J. Diálogos sobre a visão intuitiva. São Paulo: Cultrix, 1997.  

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As meditações até aqui

Desde o começo do mês, as sessões têm sido muito imperfeitas, e praticamente não consegui realizar meditação nenhuma. Mas de uns dias para cá, verificou-se uma mudança perceptível: apesar dos muitos momentos de dispersão, que continuam acontecendo, também comecei a ter momentos de maior silêncio, em que foi possível ao menos vislumbrar um pouco do verdadeiro estado de meditação. P.ex., numa sessão, em certo momento, ocorreu-me visualizar uma imagem, e isso produziu aquela nítida sensação de “intensidade” no ponto entre as sobrancelhas – que os indianos associam à concentração típica da meditação. (Como mencionei uma vez aqui, não acho que se deva meditar para ter experiências assim, mas sempre é interessante quando acontecem, pois indicam os momentos em que a concentração “funciona” melhor.) De qualquer modo, o que consigo até agora são intervalos muito breves no fluxo de pensamentos, que parece resistir a qualquer esforço com o fim de detê-lo.

Nota:

Imagem por dave_b_

domingo, 15 de janeiro de 2012

Diário do aprendiz – 15 de janeiro de 2012


Elevar os pensamentos

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XII - Os Pastores de Virgílio

Os pastores de Virgílio tocavam avenas e outras cousas
E cantavam de amor literariamente.
(Depois — eu nunca li Virgílio.
Para que o havia eu de ler?)

Mas os pastores de Virgílio, coitados, são Virgílio,
E a Natureza é bela e antiga.


~

Na vida enfrentamos problemas
Trazidos a nós pelo acaso,
Mas também muitos que criamos
Por sermos tão pouco capazes
De nos sentir em paz.

Sim, há demônios de verdade
Vagando entre nós neste mundo,
Mas também muitos nascidos
De nossas próprias mentes e corações,
E que tão-somente refletem
Nossas incertezas.

Muitas vezes o mundo será maior
Do que nossos esforços para vencê-lo,
Mas precisamos nos tornar maiores
Do que nossos próprios medos
E construir a nossa paz.

~

As meditações até aqui

A partir deste mês, meu plano é fazer duas sessões por dia, de quinze minutos cada. Até agora, cumpri quase todas elas... Têm sido tão difíceis como em qualquer outra época. Porém, algumas foram um pouco mais satisfatórias. Este parece ser um padrão que continuará se repetindo por um tempo. Não estou mais tão preocupado em alcançar um ótimo resultado em cada sessão – contento-me em relaxar um pouco, se não puder ir mais além. O importante, por agora, é manter uma prática regular. Minha expectativa é que essa regularidade acabe trazendo alguma forma de progresso.

Nota:

Imagem por irargerish

sábado, 7 de janeiro de 2012

Fragile, de Sting


Uma música para nos lembrar de algo que muitos de nós parecemos ter tendência a esquecer (às vezes por desatenção, às vezes por arrogância, às vezes porque o mundo em grande medida leva a isso, e às vezes por todos esses motivos juntos).

Não sei se Sting tem em mente apenas a fragilidade humana. Com certeza, nossa cultura é tal que não seria de surpreender se fosse esse o caso. De minha parte, embora tenha feito este blog para falar da busca da paz de espírito por meio da meditação (uma atividade que só indivíduos da espécie humana podem exercer), não penso que a paz ou a falta dela  seja uma experiência exclusivamente humana, pois há muitas maneiras diferentes de experimentá-la. Parece-me importante lembrarmos que este planeta não é habitado apenas por seres humanos, e questionar o seguinte: se, com todos os recursos que um intelecto mais desenvolvido nos proporciona, carregamos ainda a marca dessa fragilidade essencial, o que dizer desse infindável número de criaturas que vivem em nosso redor, os animais não-humanos, que a natureza não presenteou com o dom da razão? É exatamente pelo fato de não a possuírem que esses seres vivenciam, de uma forma mais direta do que nós e, em alguns casos, até mesmo de uma forma mais intensa do que nós, as suas próprias sensações – e a sua própria fragilidade.

É por isso que, quando ouço uma música como essa, entendo que se refere à condição de todos os seres dotados de sensibilidade e consciência.


Fragile, de Sting


Assista ao clip da música