segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Diário do aprendiz - 29 de agosto de 2011


Abrir as portas do coração

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VII - Da Minha Aldeia

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.


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Nesses últimos dias, esqueci completamente a prática de meditação – mas não foram dias perdidos; muito ao contrário. Envolvi-me em certas atividades que exigem agora diversas reformulações em meu modo de vida, e isso está me fazendo repensar uma série de questões de minha vida pessoal.

É ótimo que isso esteja acontecendo, embora envolva certo stress e várias perguntas que não têm solução imediata. Mas, preocupações e dúvidas fazem parte de todo processo de mudança, são o verdadeiro termômetro que indica a mudança, de modo que devem sempre estar presentes na vida.

O ser humano tem tendência a rejeitar as incertezas, buscando estabelecer alguma fonte infalível de segurança psicológica. Mas, tudo que está seguro também está, em alguma medida, estagnado. A única segurança verdadeira é aquela que consegue se manter em pleno olho do furacão, e que jamais pretende se dissociar do medo.

Esta segurança, que equivale a uma aceitação da insegurança, não isenta ninguém de cometer erros, de ter limitações. Mas cultivá-la, mediante o contato persistente com as dificuldades, é a única maneira de corrigir erros e superar limites.

No final, de uma coisa se pode ter certeza: é impossível enfrentar qualquer desafio na vida sem aprender algo. O aprendizado, e portanto o aprimoramento, nunca deixará de acontecer, e isso é motivo bastante para tocar em frente.

Nota:

Imagem por gustaffo89

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Diário do aprendiz - 15 de agosto de 2011


Ter a força de uma chama

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VI - Pensar em Deus

Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
Porque Deus quis que o não conhecêssemos,
Por isso se nos não mostrou...

Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Belos como as árvores e os regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir ter quando acabemos...


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A meditação é um “laboratório” onde podemos descobrir várias coisas interessantes a nosso próprio respeito. Conforme a maneira como nos dedicamos a essa prática, podemos verificar o quanto acreditamos no valor do próprio ato de meditar, no valor dessa experiência tão incomum chamada “silêncio interior”. Podemos verificar também nossa própria capacidade de buscar esse silêncio, observando a nós mesmos como peregrinos numa estrada onde os mais diversos obstáculos insistem em aparecer.

Isto é um fato: quando realmente queremos algo, encontramos um jeito de alcançá-lo. Mesmo que a realização se mostre inviável, teremos feito o possível (e algumas vezes, até o impossível) em sua busca – e não haverá motivo para lamentarmos. Talvez não possamos nos tornar grandes praticantes de meditação, devido ao pouco tempo disponível para essa prática ou às muitas distrações impostas pelo dia a dia. Mas, se realmente nos dedicarmos, nada poderá impedir que meditemos regularmente e façamos progressos nessa atividade. Sempre haverá algum tempo disponível, nem que sejam apenas vinte minutos depois de acordar. Sempre descobriremos algo novo sobre nós mesmos – não só nossa dificuldade de alcançar o silêncio, mas também nossa capacidade de enfrentar esse problema e vivenciar o silêncio de maneira cada vez mais efetiva.

E no final das contas, meditar não é tão difícil. Talvez, um dos maiores desafios seja tomar a decisão primordial de, por alguns minutos, esquecer as preocupações corriqueiras e entregar-se à quietude. Às vezes, uma pessoa senta-se para meditar, porém não decidiu verdadeiramente empenhar-se na meditação, e é por isso que não consegue cessar o burburinho de seus pensamentos. Cumpre enxergar o quanto são redundantes tantos dos pensamentos com que a mente se ocupa. Quando se percebe isso, a mente dá um importante passo no caminho do silêncio interior. E talvez esse seja o único passo fundamental – o resto é consolidar a tranquilidade por meio da prática.

Nota:

Imagem por Peter Zoon